D-i-p-l-o-m-a-t-a!

Renato Prado Guimarães

A recepcionista no consultório do dentista, em Barretos, vai preenchendo minha ficha. Chega a hora da profissão:

- Profissão?

- Diplomata.

- Como? Não entendi.

- Di-plo-ma-ta!

- Dá pra repetir?

- D-i-p-l-o-m-a-t-a!

- Ah! Quê que é isso?

A pergunta nem me surpreende; já a recebi inúmeras vezes na vida. O problema é que nem eu sei direito a resposta exata, definitiva. 

Dou o esclarecimento convencional, nas circunstâncias:

- É alguém que um país manda a outro, a fim de ali representar e defender seus interesses.

- Ah! Que bacana, né?

Há muitas respostas para a mesma pergunta. Tenho até uma coleção delas, em escritos antigos. Mas estes estão na mudança, ainda no porto de Santos.  Deles só me lembro de uma frase mordaz, que não achei oportuno dizer à recepcionista curiosa:

- Diplomata é um funcionário altamente treinado para mentir com elegância e refinamento em estados estrangeiros, em defesa dos interesses de seu próprio país.

Tem mais. Depois eu conto.   

Quando a mudança chegar... 

Pulo no relógio, arremato agora, junho de 2025: os tais escritos antigos nunca chegaram! Veio o container mas não uma caixa de papelão com meus guardados mais queridos, esquecida em Frankfurt, até mesmo com umas cartas valiosas (só porque elogiosas...). Nunca consegui recuperar; deve ter ido para o lixo, a tal caixa, como o meu casamento...