Sempre me considerei “do interiorrr”, nascido numa ponta paulista (Colina/Barretos) do Triângulo Mineiro. E sempre apreciei a cultura caipira – incluindo a autêntica música de nossa terra. Houve tempo em que conspiramos, outro colega diplomata (de Santa Adélia!) e eu, publicar uma coluna de música caipira num jornal de meu pai, de temas agrícolas.
Vem do interiorrr boa parte dos emigrados brasileiros; ninguém se ofenderá ante o que segue.
Em 1998/1999, à frente do Escritório do Itamaraty em São Paulo, participei do planejamento e da organização, juntamente com o então Secretário da Agricultura do Estado de São Paulo, João Carlos de Souza Meirelles, de dois Seminários sobre as dimensões internacionais do agronegócio. A ideia era alertar os produtores rurais para que a crescente globalização os introduzia, necessariamente, num ambiente econômico-comercial mais amplo e complexo, com novos riscos e novas oportunidades, que deveriam conhecer e explorar.
Os dois encontros foram um grande sucesso. O primeiro deles, que reuniu 1.500 pessoas representativas da gente da terra no mega-auditório do Memorial da América Latina, com um rol impressionante de palestrantes - Ministros, líderes rurais, acadêmicos, e especialistas em comércio -, provocou um artigo de Clóvis Rossi, na “Folha”, com ênfase na surpresa que lhe tinha causado um encontro em que os agricultores haviam tratado de seu ofício com modernidade, eficiência e descortino. Uma evolução auspiciosa, um progresso inesperado. Um marco de precoce e esclarecida aceleração na auspiciosa modernização de nosso agro.
O artigo tinha o título-pergunta “Fim do Caipira?”
Procurei o Clovis em seguida, mas não consegui encontrá-lo; parece que estava em alguma Genebra da vida, tratando das coisas da roça de um ângulo mais cosmopolita. Queria agradecer-lhe as referências positivas ao Seminário, mas também reclamar do título de sua matéria.
Afinal, todo nosso esforço se havia dirigido não a acabar com o caipira, mas sim, ao contrário, a contribuir para que ele pudesse sobreviver!
- Viva o caipira!
E, com ele, sua cultura, sua música, seus causos, todo esse jeito bom e sábio das coisas “do interiorrr” - jeito também genuíno e orgulhoso que fui reencontrar nos cafundós de nossa gente em terra nipônica.