O Amapá é nosso

Renato Prado Guimarães

Conversa vadia de fim de domingo. Frases indiferentes, sem convicção e em nada convincentes sobre as dificuldades do euro, peça de conversação assídua na época. Mas alguém atiça a prosa: “Vocês, brasileiros, deveriam estar mais preocupados com sua moeda!”. A provocação não me abala o tédio sonolento, mas me obriga a comentar: “Que é que a gente tem com essa histeria do euro?” Aí vem a explicação inesperada, estapafúrdia: “Ora, o Brasil está no mapa do euro! E vocês nem sabem disso!”

O brincalhão tira então a carteira do bolso e nela apanha uma nota de euro. Coloca-a de verso para cima e mostra o mapa ali impresso: o continente europeu, bem central, e embaixo, “a sudoeste”, algumas ilhas minúsculas e a Guiana francesa. Ao lado leste da Guiana aparece, contudo, em contornos bem nítidos, embora incompleto e meio descolorido, o Amapá!

O Brasil no euro? Mau sinal. 

Para o Brasil ou para o euro?

Fui pesquisar e descobri que as terras e ilhotas que aparecem abaixo da Europa, em qualquer das notas do euro, eram reminiscências de resíduos coloniais da França e das potências ibéricas – Açores, Guadalupe, Martinica, Madeira, a Guiana-Caiena... E o Amapá entrou nessa, por vizinhança!  

Jânio Quadros poderia ter implicado com essa anexação de papel-moeda, ele que dizem que se propunha justamente a incorporação contrária (precursor do Trump?), e não só nos cruzeiros inflacionados de seu tempo. D. João VI também não teria gostado da equívoca geografia monetária da União Europeia, ele que ocupou a Guiana para valer, em 1808, em truculento desacato a Napoleão e represália à agressão francesa a Portugal, dela só largando por imposição do Congresso de Viena, em 1815.

O Amapá é nosso!