Gastronomia do País passa a ser promovida no exterior a partir de um programa que inclui a implantação de menus brasileiros nas embaixadas
04 de maio de 2022 | 13:18 por Patrícia Ferraz, O Estado de S.Paulo
A gastronomia brasileira passa a ser promovida no exterior a partir de um programa com diferentes ações, batizado de Brasil em Sabores. Trata-se de uma parceria entre cozinheiros e o Itamaraty, costurada nos últimos dez meses pelos chefs Paulo Machado e Morena Leite com o chefe da Divisão de Ações para Promoção da Cultura Brasileira do Ministério de Relações Exteriores, Adam Jayme, e anunciada durante o Fórum do Festival Fartura, realizado no Inhotim, no último fim de semana.
O projeto tem longa duração, com ações previstas para os próximos dez anos e o envolvimento de 130 embaixadas do País no exterior. Cinco chefs relevantes no cenário nacional se tornaram embaixadores gastronômicos representando as diferentes regiões. Morena Leite, dona do Capim Santo e do Casa Alma, em Trancoso, representa a região Nordeste; Paulo Machado, especializado em safaris gastronômicos, é o representante do Centro-Oeste; Saulo Jennings, do Casa de Saulo, representa o Norte; Janaína Rueda, da Casa do Porco e Bar da Dona Onça, em São Paulo, é a embaixadora do Sudeste; Manu Buffara, do restaurante Manu, em Curitiba, da região Sul.
Eles vão colocar em prática a primeira ação: a implantação de menus de cozinha brasileira nas embaixadas, o que até hoje não se fazia. Vão desenvolver menus com o sotaque de suas regiões, a partir de um elemento comum a todas as cozinhas, a mandioca, que uns chamam de aipim, outros de macaxeira ou de maniva, mas une os brasileiros de Norte a Sul. Cada chef escolheu um pupilo que será preparado para trabalhar na cozinha das embaixadas por dois meses. Como parte do processo de capacitação, os pupilos passarão por treinamento online com uma comitiva de chefs, convocados pelos embaixadores. Ao todo, ao longo do processo, 200 chefs brasileiros de diferentes regiões vão se revezar no trabalho.
Durante as discussões do Fórum de Inhotim, com a participação de Claude Troisgros, os chefs foram encarregados também de aproveitar o evento para trabalhar com cinco pilares do programa, da sustentabilidade à inclusão social pela gastronomia.
Mais do que levar as receitas, a ideia é levar ao exterior a cozinha brasileira autêntica, com suas técnicas tradicionais, como pinga e frita, o corte do quiabo com a mão, ou lampinado usado no centro-oeste, como destacou Janaína Rueda. “Não precisamos descartar as técnicas francesas ou outras influências estrangeiras, mas temos que valorizar o que é nosso”, disse Morena Leite. A chef mineira Bruna Martins, convidada para participar do fórum, falou da importância de preservar a diversidade das cozinhas regionais e as técnicas ancestrais.
Adam Jayme anunciou que está costurando parcerias também com a Apex e o Ministério do Turismo, para ampliar as ações e disse: “Estamos vivendo um momento histórico, uma parceria entre o poder público e a sociedade civil organizada para estruturar a promoção da gastronomia brasileira”.
Não é uma boa notícia, é uma ótima notícia. Um passo importante para um setor que busca, há anos, o apoio e a possibilidade de mostrar ao mundo a riqueza da culinária nacional com seus diferentes sotaques, seus grandes produtos, as técnicas regionais. Pode-se dizer que finalmente alguém “abraçou a causa” e lançou a base para transformar o País em destino gastronômico, assim como fizeram Espanha e Peru, os exemplos mais notáveis de trabalho bem sucedido na promoção de sua gastronomia. Estava na hora.
Quem são os pupilos
Cinco cozinheiros serão treinados para capacitar as equipes de cozinha das embaixadas brasileiras. Eles vão acompanhar os chefs embaixadores na apresentação dos menus e permanecerão nas cozinhas por dois meses. Haverá rodízio permanente de cozinheiros e embaixadas em diferentes países.
Morena Leite, dona do restaurante Capim Santo e da Casa Alma, em Trancoso, embaixadora da culinária do Nordeste, escolheu como pupilo Romário dos Santos Souza, que faz parte de sua equipe em Trancoso. Sorriso largo, bom de papo, formado em cozinha, confeitaria e panificação, Romário nasceu em Itacaré e irá para a embaixada do Brasil em Angola. “Sempre quis conhecer a África; levar a culinária brasileira para lá vai ser como fazer o caminho de volta dos meus antepassados, voltar no tempo”. Romário está animado especialmente em mostrar as possibilidades da rica confeitaria nacional.
Única mulher e a mais jovem do time, Julia Aguiar, de 22 anos, é a pupila de Janaina Rueda, embaixadora da culinária do Sudeste. Elas vão para Ancara, na Turquia. “Deixei cair uma pilha de pratos quando a chef me convidou para esse projeto”, conta a cozinheira formada pelo Senac, que está no time da Casa do Porco há três anos. “Mais do que viajar, estou ansiosa para mostrar a cozinha brasileira lá fora”.
Lucas Caslu vai para a embaixada em Tóquio com Paulo Machado. Foi escolhido pela confiança que o chef deposita nele. “É uma responsabilidade escolher quem vai mostrar nossa cozinha. Além disso, descendente de japoneses, Caslu representa bem a cozinha de fronteira do Centro-Oeste, uma região marcada pela imigração”, diz o chef Paulo Machado.
Lucas Correia vai para a embaixada de Nova York com a chef Manu Buffara, representante da região Sul no programa. Integrante da equipe da chef paranaense desde a inauguração, ele nasceu em Itacaré onde foi criado em um sítio pelos avós. Pescava, matava galinha e depenava para ajudar a avó. Pegou gosto pela cozinha. Vai ser o chef do restaurante que Manu Buffara vai abrir em Nova York, no fim do ano. Está animado em começar a vida por lá na cozinha da embaixada brasileira.
Saulo Jennings, da Casa do Saulo, restaurante concorrido em Alter do Chão, perto de Santarém, convidou Ricardo Branches para participar do programa representando a região Norte. “Ele é formado em gastronomia, professor e cozinheiro, um grande profissional, que estudou comigo e não teve tanto espaço como eu”, disse. Eles vão para a embaixada do Brasil em Lima.
Fonte: O Estado de S. Paulo