Hino Nacional é plágio?

A 20 de julho de 2.002, véspera da partida Brasil-Inglaterra pela Copa do Mundo de Japão-Coréia, “The Guardian”, o inteligente, bem-informado e  respeitado jornal londrino, publicou este inesperado artigo, empolgante para qualquer brasileiro:

“Procure estar à frente da televisão às 7:20 horas amanhã,  a fim de desfrutar de mais uma contribuição do Brasil para a felicidade humana. Com a França eliminada, o Brasil tem o melhor hino nacional da Copa do Mundo de 2.002. Primeiramente escrito por Francisco da Silva, em 1841, pode-se sustentar que o Hino Nacional é o mais jovial, alegre,  melodioso e fascinante (“jauntiest, cheeriest, most tuneful and most beguiling”) hino nacional do planeta. Até parece que ele vem diretamente do Teatro da  Ópera, e a influência de Rossini é difícil de ser ignorada, embora os entendidos pensem agora que Da Silva pode ter copiado a melodia de uma obra religiosa de seu professor, José Nunes Garcia. Dentre os admiradores do Hino se encontra o compositor ‘créole’  Louis Moreau Gottschalk, que escreveu um conjunto de variações para piano e orquestra que vale bem a pena ouvir.

No seu livro “Futebol: The Brazilian way of Life”, nosso correspondente para a América do Sul, Alex Bellos, explica como o inglês Charles Miller trouxe o futebol ao Brasil pela primeira vez. Mas quando Miller chegou  ao porto de  Santos em 1894, o Hino Nacional já havia por muito tempo expresso em música o que Pelé e seus sucessores mais tarde expressaram tão maravilhosamente no campo de futebol. Enquanto a Marselhesa faz apelos belicosos às armas, o Hino Nacional exalta os sentimentos nacionais pelo apelo ao céu puro e belo (“pure beauteous skies)”, ao som do mar e às flores de seus risonhos, lindos campos (“fair smiling fields”). Um cenário apropriado para o  futebol bonito (“the beautiful game”). 

Quando Rivaldo e Ronaldo marcaram outros dois gols na Bélgica, segunda-feira, determinando assim a quarta-de-final de amanhã contra a Inglaterra, o “London Evening Standard” abriu suas últimas edições do dia com uma enorme manchete de uma palavra só: BRAZIL! Que homenagem! É difícil imaginar qualquer outro país cujo nome poderia ser usado dessa maneira e com tanta confiança, na certeza de que os leitores reagiriam com prazer e excitação. Se a Inglaterra fosse jogar contra a Argentina, a Alemanha, a França ou a Itália amanhã, a expectativa estaria misturada com medo. Jogar contra o Brasil é simplesmente um deleite (“delight”) e uma distinção (“honour”)”. 

AINDA NA CRÔNICA DE 2009:

Essa insuspeita e exaltante avaliação não foi suficientemente difundida na imprensa brasileira da época, em toda a sua dimensão musical, futebolística e cultural. Por isso se justifica a longa citação - também cabível porque não é sempre que se lê texto tão elegante com respeito ao adversário, ou que dê tanto prazer ao leitor brasileiro (na verdade, caberia bem em qualquer antologia de nosso ufanismo). Também vale, a transcrição, pelo contraste de paz e guerra com a Marselhesa e a exaltação, surpreendente – e pertinente! –, de versos da letra do Hino que estamos acostumados a desmerecer como ridiculamente líricos e acomodados - os tranqüilissimos “Deitado eternamente em berço esplêndido...”, o “Nosso Céu tem mais Estrelas...”   sendo mais de prezar e  admirar, aquelas nossas rimas,  que o  marcial  “Allons Enfants de la Patrie, le jour de gloire est arrivé!  Marchons, marchons!”. Chama atenção, ainda, no artigo, sua menção a influências rossinianas e à tese, moderna, de que o Hino deriva de exercício para pianoforte do Padre José Maurício Nunes Garcia”.  

VOLTO AO PRESENTE:

Por onde andará Alex Bellos, decerto o autor do lindo texto, além de seu excelente  livro? No mínimo mereceria uma comenda da Ordem de Rio Branco, no grau de Grã-Cruz!!! Esse texto do “The Guardian” é também merecedor de ser impresso, fotografado, enquadrado  e pendurado na parede de nossas lamentações cotidianas, ali bem à frente de nossos lap-tops inefáveis.

Como antídoto para nossas penas, antitóxico pros atropelos do dia-a-dia!

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